domingo, 18 de outubro de 2009

A INCLUSÃO DIGITAL E O PROCESSO EDUCATIVO

Num país onde uma parcela considerável da população é analfabeta e uma outra ainda maior, é analfabeta funcional (diplomada ou não), ou seja, não consegue trafegar pelo universo da leitura e sua compreensão, a inclusão digital chega como bênção e como faca de dois gumes.
É extremamente dúbia a realidade em que vivemos, onde a inclusão vem acontecendo sem dúvida alguma, ainda que de maneira gradual ou mesmo lenta, mas que encontra um povo, em sua maioria, sem base para utilizá-la.
Li, certo dia desses, que a informação aprisiona e o conhecimento liberta. A questão é que para se chegar próximo ao conhecimento é necessário um processo educacional e falo da educação como um todo, muito mais solidificado do que o que temos.
Preocupo-me imensamente ao observar o telecentro do micro Universo no qual trabalho. Meus alunos conseguem digitar, navegar, informações acerca de compositores e músicas, mas não conseguem interpretar nada do que lêem. A questão se torna ainda mais séria quando, peço que anotem alguma informação: não conseguem escrever e quando o fazem, é de maneira tão equivocada, que chego a me assustar.
Por outro lado, ainda falando em micro universos, vejo minha mãe de 78 anos, que não terminou o ensino médio, sempre leu muito, escreve com poucos erros de português e com bela caligrafia, e que arregaçou as mangas para inserir-se no universo digital. Em princípio tímida e temerosa, mas impulsionada por um tal de “skype” que permitiria a ela ver a filha e falar-lhe todos os dias, numa distância de mais de mil quilômetros, de maneira gratuita.
A princípio parecia fácil, mas ao entrar numa “escola” deparou-se com conceitos como word, excel, e-mail, orkut!!!!!!!!!!!!!!!!
Posso dizer que ela quase surtou, pois não sabia digitar, não sabia ligar o computador, não entendia nada do que lhe era falado, pois o professor, que por sinal era muito bonzinho, não fazia conexão alguma entre os conceitos por ele passados e a vontade da minha mãe de falar no skype. Primeiro, de acordo com o professor, era necessário passar por todas as etapas e minha mãe perguntava: -Por que? E ele retrucava:-Porque é importante, Dona Iracy.
A boa notícia é que minha brava mãe solucionou suas dúvidas “by herself”!
Mas e outras pessoas que encontram profissionais bonzinhos ou não, mas desqualificados principalmente para entenderem a importância de ouvir o aluno, e ensinar-lhe a partir do seu próprio universo?
Na verdade como educadora, não me preocupo com o alcance do processo de inclusão digital, pois sei que além de necessário é inevitável, e coisas inevitáveis obviamente acontecem. Preocupo-me muito mais com o processo educativo, para que a inclusão digital seja uma ferramenta funcional e não somente ferramenta onde o alvo seja busca de informações, inclusive de qualidade questionável.
Não sei se é possível que ambas andem “pari passu”, uma vez que a inclusão digital depende em princípio, de recursos econômicos, mesmo no que se refere à contratação de professores realmente habilitados.
Como nosso problema educacional é questão histórica, resolvê-la é mais difícil. Não se trata de encher as periferias de computadores, de ligá-los em rede, mas de pensar em qual “moeda” pode ser utilizada para “pagar” os custos de formar um povo que tenha conhecimento.
Formar esta população nunca foi interessante para a classe dominante, e a história se repete, cada vez mais e mais.
Neste momento preciso sair pela tangente, e esperar no professor, ou melhor, no educador, naquele que faz o seu papel, inclusive o de buscar um melhor salário porque sabe que faz jus a este. Preciso porque, deste educador é possível que saiam raízes sólidas que a longo prazo
tenham a capacidade de dar suporte a tanta informação e traduzi-la em conhecimento, juntamente com alunos preparados para pensarem, para analisarem, para entenderem a importância da disciplina (não imposta) mas advinda do interior, do que é intrínseco em cada um.
Assim, apesar de tudo, ainda repleta de esperança consigo fazer meu simplório link entre inclusão digital e processo educativo, fruto de muito trabalho pelas vielas estreitas e íngremes no terreno da Educação, onde em muitos momentos aprendi mais do que ensinei.

2 comentários:

  1. Adorei a historia da tua mae...mas...fiquei curiosa...ela consegue usar o skype contigo, ja ?

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  2. Sim, todos os dias, invariavelmente, mesmo quando não tenho tempo de atendê-la.
    Beijos

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